quinta-feira, 9 de agosto de 2012

The City is my Church

Calor em NYC

Como na maioria das grandes cidades do hemisfério norte, Nova York celebra o verão com uma série de shows para todos os gostos e bolsos. A mais famosa delas por aqui é o Summerstage,  que reúne artistas das mais variadas procedências e estilos em parques espalhados pela cidade, praticamente todos os dias, de julho a setembro.

Ontem, no Central Park, foi a vez do M83, banda francesa(!) shoegaze, em inspiradíssima apresentação. E o tio estava lá prá conferir, cercado de garotos ainda imberbes, caindo aos montes feito moscas - chapados de calor, de bebida e THC -, em uma festa ao ar livre que há anos não participava. Loucurinha bem doidona!

Registrando o registro
A despeito do excesso de peso, da falta de fôlego e da dor nos joelhos, dancei por quase três horas ininterruptas. E me diverti muito.

Os caras são feras. Trafegam com habilidade do indietronic ao synthpop, e levaram a multidão que se reuniu ali ao mais absoluto delírio.

Mesclando sons viajantes setentistas que lembram Pink Floyd ao bate-estaca dos mais furiosos, que remetem aos bons tempos do New Order, o M83 mostrou uma competência pop ao vivo que, pelo menos para mim, era totalmente insuspeita.

Anthony Gonzales, Central Park 2012
Anthony Gonzales, fundador, tecladista e principal vocalista do grupo - além de uma delícia de homem - é um mestre de cerimônias perfeito. Levanta a galera e arrasta a audiência, com sua voz à Peter Gabriel,  na irresistível viagem radical que suas músicas provocam.

Alias, a banda, como um todo, funciona muito bem. Formada por músicos multi-instrumentistas, que passseiam dos teclados à percussão, durante toda a apresentação parecem se divertir com o público e, realmente, curtir o que estão fazendo.

Morgan Kibby, enlouquecida no bate-cabelo
Morgan Kibby, a voz feminina e tecladista da banda é uma headbanger de dar inveja a muito metaleiro e hipnotiza com seus vocais cristalinos na maior parte das canções do M83.

Jordan Lawlor, no baixo e teclados, faz sua parte - apesar de ser visivelmente o mais jovem da trupe -, com grande competência também. Mas quem arrasa mesmo é Loïc Marin, o baterista. O cara destroça seus tambores, rouba a cena e leva a banda, literalmente, na mão. Sua performance é inacreditável. Pura energia e entrega.

Saí dali exausto, completo, com a alma lavada em suor e alegria. Mas sentindo também, em algum lugar do meu coração, uma certa melancolia, por entender que poder estar aqui e participar disso tudo tenha talvez demorado demais para acontecer.

Talvez fosse mais divertido, mais coerente, se tivesse 20 anos, se ainda contasse com a disposição e a coragem irresponsável de um menino. Mas, convenhamos, já não tenho mais idade para procurar coerência em nada do que vivo...

Sei dizer que, claudicando por entre as árvores centenárias do Central Park, em perfeita comunhão com a molecada ainda em êxtase, voltando para casa, percebi exatamente o sentido da expressão "antes tarde do que nunca".


M83 no Summerstage, New York, 08/08/2012


É isso. Deixo vocês com um registro de Midnight City, desse mesmo show, gravado em Newark, em abril último. Atentem para o nervoso solo de saxofone no final da apresentação. Infelizmente não creditado, nem no show nem no YouTube.






quinta-feira, 5 de abril de 2012

CONFIDÊNCIAS DE BANHEIRÃO

Por toda a América, incontáveis homens estão se encontrando para fazer sexo em banheiros de auto-estradas. Eu sou um deles. Entenda por quê.

Por Cornner Habib / Tradução Yuri Brancoli

(Foto: Vladimir Odegov via Shutterstock/Salon)
 Eu tinha 15 anos quando me toquei pela primeira vez da existência de homens que fazem sexo em público. No caminho para o Maine, com minha mãe e meu padrasto, saímos da auto-estrada para uma breve parada em uma área de descanso. Dentro do banheiro, no mictório, havia um homem bem ao meu lado. Um tipo alto e rústico, e estava se masturbando. Ele olhou diretamente para os meus olhos. Eu fiquei excitado, mas imóvel; ele sacudiu  o pau para mim e eu não pude reagir. Nós poderíamos ter ficado ali nessa situação para sempre, mas um outro homem entrou, viu o que estava acontecendo e fez uma careta. Então, o mundo voltou a girar em torno de mim e eu corrí para fora do banheiro.
Se você alguma vez parou em um banheiro de estrada, você esteve ao lado de homens fazendo sexo. Eu sou um desses homens, eu fiz isso centena de vezes; nós entramos dentro das matas ou em boléias de caminhão com as cortinas cerradas, ou sob a luz fria das minúsculas cabines de banheiro. Isso nunca cessou, nem durante tempestades violentas nem na alta madrugada. No inverno,  homens arrastam-se através da neve para estarem juntos, no verão, homens saem das matas próximas com vestígios de suas incursões ainda agarrados as suas calças. Você já parou em uma área de descanso de rodovia e achou  que ela estava completamente vazia? Pois há sempre um homem ali, em seu carro, esperando para encontrar alguém.
Isso vem acontecendo por muito, muito tempo. Os novos caminhos que homens usam para se caçarem – perscrutando eternamente seus smartphones, esperando uma resposta em um app do Grindr ou em sites como Manhunt  - não mudou a realidade de que nós ainda fazemos sexo em áreas públicas, por que isso nos oferece algo diferente. Sites e apps de pegação exigem uma demasiada certeza sobre si mesmo para que possam ser usados por homens que são incertos sobre sua própria sexualidade, ou inseguros sobre como expôr isso para alguém, ou para homens que têm uma família tradicional mas sentem novos desejos (ou desejos antigos) reprimidos dentro deles. Eles só servem para homens gays que querem fazer sexo com outros homens gays. Sexo em lugares públicos, por outro lado, pode prescindir do assumir-se. Há uma espécie de liberdade para não ser coisa nenhuma – ao contrário, homens podem simplesmente encontrar homens que querem essa mesma liberdade. Sem rótulos.
É mesmo surpreendente que pessoas possam se sentir desconcertadas se são pegas fazendo sexo em público e isso leva a descoberta de suas reais identidades sexuais? O Senador Larry King e o pop star George Michael foram ambos flagrados nessa situação. O fato é que o apelo não está apenas em fazer sexo, mas fazer sexo anonimamente ( não necessariamente por que você queira esconder sua identidade de outras pessoas; por certo outros homens reconheceriam George Michael), mas para permitir que sua própria identidade seja esquecida por você por um momento. E essa liberdade é acessível a qualquer um,  até para aqueles sem problemas com sua orientação sexual.
Quando fiz 21 anos e tive meu primeiro carro, dirigi até uma pequena área de estacionamento da auto-estrada perto de onde morava: a intensidade das memórias daquele dia quando eu tinha 15 anos me levou para lá. Depois, nas longas viagens entre a faculdade em Massachusetts e minha casa na Pennsylvania, estacionava onde quer que encontrasse uma área de descanso. Chegando lá, eu esperava tranquilamente. Não me sentia nervoso, não pensava em nada – parecia, para mim, que eu simplesmente estava onde deveria estar.
Algumas vezes homens vão para esses lugares unicamente  porque não têm outro lugar para ir. A cidade onde ficava minha faculdade e minha cidade natal eram rodeadas por largas linhas de árvores, formando pequenos bosques, e áreas industriais abandonadas. Não havia outro meio para encontrar alguém nestas cidades ou, se houvesse, isso pareceria de alguma forma forçado. Talvez  pudesse marcar encontros com alguns caras assumidos como eu, mas eu realmente não procurava nenhum vínculo emocional naquela época. Então, seria desonesto. Os meus amigos héteros iam para festas e abordavam garotas por lá, resolviam seus desejos em qualquer gramado ou iam trepar nos dormitórios estudantis.  Já os gays tinham que se virar como podiam, seja lá como achassem a solução para seus problemas. Enchendo a cara e pegando os colegas héteros também bêbados, procurando sexo nas bibliotecas com garotos da cidade, ou em viagens para os centros urbanos maiores nas redondezas: seja agindo assim, seja sentando em cima das suas pulsões sexuais, como muitos de nós fizemos nossa vida inteira. Muita energia e lugar nenhum para descarregá-la ou alguém para dividir.
Uma vez estacionado, alguém pararia seu carro bem ao lado do meu e me lançaria um olhar. Haveria lá um monte de homens mais velhos, e alguns jovens também. Não existia nenhum sinal específico, apenas a maneira como essses homens se olhavam. Nós poderíamos trocar algumas palavras. Eu iria para dentro do pequeno edifício do banheiro, como aquele que encontrei no Maine. Nos mictórios, quando o banheiro estivesse quase vazio, nós poderíamos ficar em pé, lado a lado, nos avaliando. Ou, se não nos mictórios, alguém entraria em uma cabine próxima a mim, batendo seus pés, e eu poderia me abaixar no chão frio e sujo, escorregando metade do meu corpo sob a divisória ou, em alguns casos, encontrar um buraço na parede para ter acesso ao parceiro.
Depois de algum tempo, comecei a desenvolver um estranho sentimento sobre esses encontros furtivos, como se eu tivesse entregando a mim mesmo para uma outra pessoa. Não que eu me desse por inteiro, mas aquela parte de mim que eu entregava nestes momentos era inteira. Não havia disfarces, nem subterfúgios ou jogos de sedução, nem mesmo interessava se eu realmente estava atraído – ou não – especificamente por alguém. Não existia preocupação se o potencial parceiro era homo ou hetero, na verdade simplesmente não existia orientação sexual envolvida naquilo. Nos bastava estarmos ali, juntos, como nós mesmos.
Com freqüência, haveria uma cerca que bloqueava o acesso para os bosques, mas também uma parte rompida que alguém que estivera ali antes teria retirado. Haveria uma caminho enlamaçado através do gramado, desgastado pelo uso. Nos bosques, seria possível encontrar uma clareira e nela, tudo poderia acontecer. Pessoas e corpos, todos procurando pela mesma coisa. Muitos de nós atravessaram a cerca, debaixo do céu. Era fácil, em situações como aquela, perceber como existiam muitos mais homens precisando de outros homens do que alguém poderia supor.
Nesses lugares as identidades das pessoas simplesmente se turvavam, e isso era parte de seu apelo. Uma vez eu vi um pacote de camisinhas preso em uma árvore com o recado “Sejam prudentes, rapazes”. E, tudo bem, isso foi um gesto gentil, embora também tenha sido entendido como uma invasão. Por conta desses lugares não serem muitos,  eles não eram o destino de sempre, não para a maioria das pessoas. Essas outras pessoas geralmente estavam fora desse lugar particular, em sites de pegação, fora de suas casas, bares, clubes, vidas – removidas desse mundo. E quando se infiltraram ali, isso fez a experiência menos real e, em si, menor.
Intrusos poderiam surgir de outras formas também. Uma vez, a polícia apareceu em uma área de descanso em que eu estava em Rhode Island. Era noite. Ao perceber a aproximação, eu calmamente reclinei meu banco e fingi estar dormindo. Eles jogaram a lanterna no meu rosto e eu abaixei o vidro do carro.
“O que você está fazendo aqui?”, um deles me perguntou.
“Apenas descansando”, eu disse.
Eles se entreolharam. “Tá certo. Como você deve saber, muitos caras vêm prá cá a procura de diversão”.
“Diversão?”.
“Sim”.
“Como assim, tipo drogas?", eu perguntei, fazendo o estúpido.
Eles não poderiam me responder. Eles não poderiam dizer nada. Então, me recomendaram ter cuidado e saíram fora.
A polícia é uma constante ameaça para áreas de sexo público – eles realmente desejam trazer o mundo real para dentro delas.
E isto é o contrário do por quê as pessoas vão até lá. Alguns dos homens que podem ser encontrados nessas áreas de descanso estão justamente tentando dar um tempo em suas vidas rotineiras. Eles não estão simplesmente escapando de seus casamentos, ou de suas famílias ou das vicissitudes de suas exiatências; ali eles se sentem autorizados por si mesmos a serem honestos.
Uma vez, após trepar com um cara dentro de uma cabine, saímos para fora do prédio caminhando juntos, em um dia tranquilo. Eu o observei indo para o seu carro, um carro que eu não havia notado estar no estacionamento antes de entrar no banheiro. Dentro, seus filhos estavam esperando por ele. Quem poderia supor como era sua vida fora daquela cabine?
Seus filhos eram pequenos e agitados, gritando uns com outros no banco de trás do carro. Ele abriu a porta e disse para as crianças algo que não puder ouvir de onde estava. Eles se acalmaram e se sentaram novamente. Eu me encostei no meu carro, onde não tinha ninguém me esperando, e ele entrou no seu e saiu dali sem olhar para trás.
Isso não é “diversão”. Isso são homens condescendendo com algo que eles deveriam estar tentando negar, mas não conseguem. Estes lugares permitem instantes de vidas totalmente diferentes para algumas pessoas. Eu não sei se esses caras são “homos” ou “heteros”. Isso importa? Em um ponto que para a maioria das pessoas é apenas um caminho para algum outro lugar, homens podem se encontrar e encontrarem-se a si mesmos.
Eu agora vivo em San Francisco, e existe mais aceitação aqui para diferentes sexualidades e identidades do que eu nunca havia encontrado em algum lugar anteriormente. Também tem muito pouco sexo realmente “anônimo”. Sexo “anônimo” aqui significa encontrar algum parceiro on line, ou no Grindr ou no bar, saber o nome, voltar para o seu apartamento  ou o dele. Isso não é ruim, claro, mas eu sinto falta de ser um ninguém em um entre-lugares, um lugar nenhum. Aqui eu tenho que ser alguém, tudo é tão definido dentro dos seus limites. Em banheiros públicos, eu poderia ser apenas um corpo, estar ali para algum outro corpo, que eu nunca havia visto antes, saudoso por algum tipo de conforto e amor que apenas ninguém, em lugar nenhum, poderia dar.
Corner Habib é escritor, professor e porno star gay. Acredita que seja a única pessoa no mundo a ganhar três diferentes prêmios que reconhecem suas qualidades em cada uma das áreas. Vive em San Francisco, onde é responsável por um grupo de discussão sobre ciência espiritual inspirado em Rudolf Steiner, bebe litros de café e compra muitos livros. Encontre-o no Twitter @connerhabib ou visite seu blog connerhabib.wordpress.com.
Yuri Brancoli estuda inglês e esse texto é seu primeiro exercício em tradução. Nunca ganhou nenhum  prêmio para nada, mas bateu muito banheirão pela vida a fora - sempre com interesses puramente sociológicos. Claro.
Para acessar o texto original, em inglês, clique aqui: http://www.salon.com/2012/03/29/rest_stop_confidential/
Thanks, Zedu, pelo envio do original.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

So Hush, Little Baby, Don´t You Cry


Na última sexta-feira, eu e o Luís tivemos a graça de poder assistir Porgy & Bess, a "folk-opera" famosíssima de George Gershwin.

Depois de muitos e muitos anos, a obra-prima do compositor americano voltou a ser encenada na Broadway e, por um acaso feliz do destino, nós estávamos aqui para conferir.

A montagem atual traz a diva Audra McDonald (ganhadora de quatro Tonnys, o "Oscar" do teatro americano) no papel de Bess, naquele que a crítica considera o melhor momento da sua carreira, além da performance arrasadora de Norm Lewis como Porgy. Sem falar no restante do elenco, afiadíssimo.

Para quem não conhece a história, trata-se de uma improvável relação de amor entre uma prostituta viciada em cocaína (Bess) e um mendigo aleijado (Porgy), atormentados pelo cafetão de Bess, o violento Crown, e o traficante de drogas Sportin´Life. Toda a ação se passa na fictícia comunidade de pescadores negros de Catfish Row, em Charlestown, no sul dos Estados Unidos na década de 20.

A miséria reina absoluta entre os moradores. Miséria física e miséria moral. Durante quase três horas o que se assiste é um desenrolar impressionante de clássicos do jazz e do blues além de dor, muita dor, no cotidiano das personagens.

Gershwin, um alvo judeu americano (e, dizem, gay de carteirinha) consegue, com habilidade ímpar, trazer à cena todos os detalhes da questão racial estadunidense do primeiro terço do século passado. A pobreza, a violência e a segregação estão no palco, em estado bruto, sem nenhuma tentativa de edulcorar esses aspectos. Ao contrário, a peça choca pela crueza.

De início, logo após a estréia no final dos anos 30, criador e criatura enfrentaram forte resistência do público e da crítica. Essa que talvez seja a maior obra musical já produzida por um compositor americano levou anos para ser reconhecida como tal. Gershwin tomou ripada de todo lado. Dos brancos por acharem que preto não podia ser tema de uma peça musical clássica (mesmo que popular) e dos pretos, por acreditarem que Porgy & Bess era racista, por "reforçar" uma imagem negativa do povo negro americano.

Vale lembrar que na mesma época Billie Holiday já cambaleava louca de heroína pelos bares do Bronx e negros eram mortos sem maior cerimônia pela Ku-Klux-Klan. Logo, o máximo de que se pode acusar Gershwin, é por realismo, não por preconceito.

Para mim, longe de ser racista, a peça foi, na verdade, revolucionária por trazer à tona ao grande público, de maneira crítica e pela primeira vez, a dura realidade em que a imensa maioria dos negros americanos vivia na época - e continuaria a viver pelo menos até os anos 50, com o movimento pelos direitos civis iniciado pelos Panteras Negras e a ascensão política de Martin Luther King Jr.

Mais do que isso, por tratar de temas profundamente humanos - amor e ódio, dor e prazer, perdão e vingança, vida e morte, tudo embalado pela genialidade musical do autor - a peça nos leva a uma irresistível empatia com os personagens. E não deve ter sido fácil para a elite branca da época sentir qualquer outra coisa, além dos costumeiros indiferença ou ódio, pelos pobres e pretos que dominam a cena.

Gershwin foi atacado também por uma alegada "higienização" da música negra americana, entenda-se, o jazz e o blues. Por essa razão, entre outros, Duke Ellington xoxou a obra e seu autor, só revendo sua posição vinte anos mais tarde, na década de 50, quando grandes mestres do jazz - como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Nina Simone - já haviam percebido a riqueza das melodias da peça e cravavam clássicos atrás de clássicos pescados em Porgy & Bess. Só prá citar alguns, estão lá "Summertime", "Bess, You Is My Woman Now", "I Loves You, Porgy",  "I Got Plenty 'o Nuttin" e "It Ain´t Necessarely So".

Por falar em "Summertime", é essa pérola que abre o espetáculo, assim, de primeira. A música é um lullaby, uma canção de ninar, entoada por uma negra da comunidade de Catfish Row que, desesperada por ver seu filhinho chorando de fome e frio e sem ter o que fazer para mitigar seu sofrimento, canta docemente para acalmá-lo, criando, na música, uma realidade fantasiosa onde tudo é belo e fácil, e um futuro sorridente aguarda a todos. Talvez uma das mais tocantes cenas já produzidas por uma canção em todos os tempos. De partir o coração.

Depois disso, é segurar firme nos braços da poltrona e aguardar o que vem pela frente - e vem muita coisa... A biba-judia era, definitivamente, um gênio!

Como são gênios esses dois monstros da canção americana - Ella Fitzgerald e Louis Armstrong - que deixo abaixo, na minha opinião, em uma das mais sublimes interpretações dessa jóia que é "Summertime". Desfrutem!




Este post vai com carinho para o Walter, a Mama, que me apresentou Gershwin e Ella Fitzgerald, quando eu era pouco mais do que um viadinho pós-adolescente new-wave que achava que a história da música tinha começado com Devo e B-52´s. Ele esteve comigo na Broadway, guardado no meu coração. Saudade e gratidão eternas.

E.T.: Eu continuo adorando Devo e B-52´s...  ;o)