quarta-feira, 9 de novembro de 2011

É nóix no Victoria & Albert Museum

Grace Jones in a maternity dress designed by Jean-Paul Goude and Antonio Lopez

Moçada, minha vida virou exposição! Desde 24 de setembro e até meados de janeiro próximo, o Victoria & Albert Museum, de Londres - que gosta de se apresentar como o maior museu do mundo em arte e design -, leva a mostra Postmodernism: Style and Subversion in Sound and Vision, 1970 / 1990.

Estive lá recentemente e, caso você esteja, por qualquer razão, na metade de cima da laranja por estes meses, compareça: vale a pena. É um apanhado enorme de tudo aquilo que calçou a história de quem, como eu, hoje beira seus 50 anos e que teve o cuidado de orbitar este planeta insano na jornada.

E tá tudo lá mesmo: de maquetes da arquitetura esquisita do meio-oeste americano (e o logotipo do Tacobel) a coleção completa das capas da I-D e dos melhores LPs do período. Ao vivo, do icônico soutien pontudo de Jean Paul Gaultier para Madonna ao terninho oversized do lider dos Talking Heads no inesquecível Stop Making Sense. Até a capa de plástico da replicante que morre baleada na melhor seqüência de Blade Runner, aquela em slow motion entre vitrines iluminadas da chuvosa Los Angeles do século que vem, também está lá.

Registros da colorida onda new wave que tomou de assalto a década de 80 ao soturno pós-punk noventista. E tome a androginia de David Bowie, e tome a estranheza de Klaus Nomi, e tome o cinismo pop de Devo, e tome a loucura em estado bruto de Grace Jones, e tome a amargura luxuosa de Laurie Anderson. Toda a turma que embalou minha esquizofrenia existencial pós-adolescente.

Também dá prá perceber direitinho a filosofia "pós-moderna" desse capitalismo insano que ganhou sua força maior no apagar das luzes do século passado, a vitória final do "eu-sou-o-que-consumo", de como a arte e o design foram edulcorando produtos e, de produtos, eles passaram a quase fetiches.

Entender no detalhe o alvorecer do cinismo yuppie e a ressaca moral do individualismo doentio que marcou a época - e os registros da reação das cabeças pensantes (e, pela primeira vez na história, a dos "lumpens") alijadas do processo - coisas da indústria cultural e da massificação da informação que, de um jeito ou de outro, permitiram essas expressões de desacordo com o jeito de pensar/viver dominante naquela altura.

Andy Warhol, Dollar Sign, 1981. Synthetic polymer paints and silk-screen inks on canvas. Private collection. Photograph Christie’s Images 2011 © The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts / Artists Rights Society (ARS), New York / DACS, London 2011.

O trabalho de curadoria é brilhante. Você entra em espaços onde as informações vão ganhando  intensidade, complexidade e emoção num ritmo alucinante, e as memórias da sua vida, todas, fragmentadas, e agora recontextualizadas pela mostra, vão se organizando na consciência. E um novo sentido para tudo aquilo que vivemos - e, de certa maneira, fomos - vai emergindo desse lixo pop do qual somos criadores e criaturas.

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De tudo, talvez o mais chocante mesmo seja o encerramento. Uma salinha de paredes brancas, chão de carpete cinza chumbo, insípida, onde numa parede é projetado incessantemente o belíssimo vídeoclip da música Bizarre Love Triangle, do New Order. A frase "Why can´t we be ourselves like we were yesterday?" ficou martelando na minha cabeça, resumo perfeito da exposição, no sentido desse tal posmodernismo.

Afinal, esse "Por que a gente não pode ser nós mesmos como a gente era ontem?", o que é? Graça ou maldição? Ganho ou perda? Onde essa estrada acaba quando a gente cansa?

Sentei e chorei, de mais pura emoção. E de gratidão, também. Caralho, para o bem e para o mal, fizemos história. E estamos no museu!


Este post vai com carinho especial para a turma da PUC, da ECA e, em particular, para o traficante generoso da festa no sítio do Jayme em meados de 1993.

Material oficial da exposição aqui http://www.vam.ac.uk/content/exhibitions/postmodernism/postmodernism-about-the-exhibition/ e aqui http://www.vam.ac.uk/content/exhibitions/postmodernism/postmodernism-creating-the-exhibition/

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